quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O QUE VOCÊ ESTAVA FAZENDO AS 09h00min HORAS DA MANHÃ DO DIA 16 DE OUTUBRO DE 1962?

Pessoalmente posso dizer que eu deveria estar em alguma sala de aulas do Hospital das Clínicas de Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná em Curitiba, com o pensamento voltado para as férias escolares que já se avizinhavam.
            Assim como eu, toda a população do Brasil e, quiçá, do mundo todo, nunca poderia imaginar que naquele exato momento o Presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, chamava o seu irmão  Robert Kennedy que, além de ser senador, havia sido nomeado Chefe da Promotoria Publica, para uma reunião em caráter de urgência na Casa Branca.
            A razão desta reunião, como depois se ficou sabendo, poderia ter consequências tão graves que seriam capazes de levar à destruição do mundo por uma guerra nuclear; este episódio ficou conhecido como a crise dos mísseis cubanos.
            Olhando à distância, sinto que no verdor da minha juventude, não tinha como aquilatar o real perigo que a humanidade estava correndo naqueles conturbados dias (16 a 28 de outubro de 1962); recentemente tive acesso (sebo em Nova York) ao livro escrito por Robert Kennedy e publicado em 1969, após a sua morte: “Thirteen days - A memoir of the Cuban missile crisis - Treze dias, memórias da crise dos mísseis Cubanos”, cuja leitura, tenho o prazer de compartilhar com meus leitores.
            Trata-se de um relato substancioso sobre o dia-a-dia daqueles acontecimentos, contado por um dos personagens que foi coadjuvante; peço permissão para tentar resumir os relatos, incluindo, quando achar conveniente, minhas próprias observações, as vividas naquela época e as que acumulei durante este interregno de tempo até os dias atuais, pela leitura de livros e jornais que tive e continuo manuseando.
            Não estou certo se poderei transmitir aos leitores, principalmente aos mais jovens, toda a emoção que a nossa geração sentiu durante aqueles tormentosos dias; o clima era de incerteza quanto ao futuro da humanidade, se levarmos em consideração o ambiente de “guerra fria” existente entre os Estados Unidos e a União Soviética naquela época, com as duas potências apresentando capacidade de destruição jamais imaginada, tendo em vista os seus respectivos armazenamentos de arsenais atômicos.
            Estes dados tornam-se mais horripilantes quando sabemos que o poder de destruição de uma bomba atômica é calculado em kiloton (um kiloton equivale a 1.000 toneladas de TNT) e uma bomba de hidrogênio é calculada em megatons (um megaton equivale 1.000 kilotons, ou, um milhão de toneladas de TNT) e que os Estados Unidos e a União Soviética possuíam, por esta época, mais de 30.000 bombas nucleares armazenadas em seus respectivos países.
            Naquela reunião o Presidente Kennedy informou ao seu irmão Robert que por intermédio de fotografias que foram feitas pelos aviões espiões de reconhecimento, denominados U-2 (capazes de voarem em altas altitudes), a comunidade de inteligência do governo estava convencida de que a Rússia teria colocado mísseis e artefatos atômicos em Cuba; duas horas depois, agora com a presença do alto escalão do governo, a CIA (Agência Central de Inteligência) fez uma formal apresentação do que estava ocorrendo, mostrando as fotografias das bases de mísseis, construídas na região de San Cristobal, na ilha de Cuba.
Como não poderia deixar de ser, o clima foi de enorme surpresa, pois, ninguém naquela sala, como diz Robert, seria capaz de imaginar que os russos seriam capazes de colocar mísseis de superfície em Cuba, ainda mais que ele, Robert, havia se encontrado algumas semanas antes com o embaixador soviético Anatoly Dobrynin que, por sinal, havia marcado o encontro para dizer aos americanos que a Rússia estava preparada para assinar um tratado de banimento de testes atômicos na atmosfera, se os Estados Unidos concordassem em um acordo para testes subterrâneos.
Naquele mesmo encontro, segundo ainda Robert, foi dito ao embaixador soviético que os Estados Unidos estavam insatisfeitos com o continuo envio de equipamentos militares soviéticos para Cuba e este lhe deu garantia, em nome do primeiro ministro Nikita Khrushchev, de que não havia mísseis terra-terra ou qualquer outro equipamento ofensivo em Cuba e que as construções militares que estavam sendo construídas, não tinham nenhuma significância, pois eram somente para defesa da própria Ilha e que Khrushchev não faria nenhum movimento para complicar a relação entre os dois países neste período que antecede as eleições legislativas americanas, pois, ele não desejava complicações políticas para o Presidente Kennedy.
Uma semana depois deste encontro, dia 11 de setembro, Moscou negou publicamente qualquer intenção de enviar mísseis, principalmente com cargas nucleares, para qualquer país fora da União Soviética, incluindo Cuba; logo em seguida, um importante personagem da Embaixada Soviética, retornando de Moscou, entregou ao Presidente Kennedy, por intermédio de Robert Kennedy, uma mensagem pessoal de Khrushchev afirmando que, sob nenhuma circunstância, serão enviados mísseis terra-terra para Cuba.
Era tudo mentira; os Russos, como provavam as fotografias, estavam colocando mísseis em Cuba e começavam a construção de plataformas de lançamentos enquanto, publicamente, davam garantias de que não estavam fazendo.
Na próxima semana iremos procurar entender como o serviço de inteligência dos Estados Unidos foi ludibriado pelos russos. .

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial