quarta-feira, 24 de agosto de 2011

MÍSSEIS EM CUBA – A ESPERANÇA VENCEU O MEDO - FINAL

Foram dias de tormenta, o Conselho de Segurança Norte Americano permanecia em reunião em tempo integral; provavelmente, pois não temos estas informações, algum órgão semelhante a este, porém, do lado dos Soviéticos deveria, também, estar se reunindo e discutindo com a mesma aflição que percebemos ao ler, agora, a transcrição das discussões havidas no lado dos americanos (Thirteen days – Robert Kennedy; The Kennedy Tapes – E. May and P.Zelikow; The decline and fall of the Soviet Empire – Fred Coleman).
Como vimos em nosso ultimo relato, graças à intermediação da ONU, no último momento houve acordo entre a Rússia e Estados Unidos e os dois estados “beligerantes” resolveram discutir o assunto por meios diplomáticos.
Robert Kennedy convidou o embaixador Russo, Anatoly Dobrynin, para uma entrevista no Departamento de Justiça; discussão difícil e demorada;eram dois homens, sagazes e inteligentes, tentando convencer um ao outro. Dobrynin pergunta o que os Estados Unidos dariam em troca pela retirada dos mísseis de Cuba, insistindo que os mísseis da Turquia deveriam ser removidos; Robert, agora, mais incisivamente questiona, inicialmente, o fato de a carta que Khruschev enviou para o Presidente Kennedy ter sido transmitida e divulgada pela imprensa, antes do destinatário tomar conhecimento do texto, como deve acontecer nas relações diplomáticas, por outro lado, os EEUU não aceitam a discussão com esta premissa, uma vez que esta decisão só poderia ser tomada pela OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e que o tempo estava passando e os Estados Unidos precisava da resposta, por escrito, até no máximo no dia seguinte.
Robert, na sua volta à Casa Branca, faz um relato das discussões que manteve com o Russo; John Kennedy torna-se pessimista, embora esperançoso (palavras de Robert) ordena então que a força aérea se coloque em prontidão máxima para a invasão de Cuba nas próximas horas e as possíveis consequências que advirão deste ato.
No meio de toda esta expectativa e seguramente atormentado pela possibilidade de uma guerra catastrófica para a humanidade, na qual ele seria um dos atores desencadeantes, no dia seguinte (domingo pela manhã) àquele encontro, tão incomum na história da humanidade, Robert Kennedy, como ele conta em suas memórias, deveria cumprir a promessa feita à sua filha já há algum tempo: levá-la a um espetáculo de “salto de obstáculos com cavalos” e como não havia nada a ser feito a não ser esperar a resposta de Khruschev, foi cumprir a promessa. Considero este fato inacreditável e que demonstra, por outro lado, a prioridade familiar colocada à frente das preocupações pessoais.
Durante aquele  espetáculo, Robert recebeu telefonema do Secretário de Estado Dean Rusk, informando que o embaixador russo desejava falar-lhe; voltou imediatamente para o Departamento de Justiça e lá, recebeu a visita de Dobrynin, com mensagem de Khruschev que aceitava a retirada dos mísseis de Cuba, sob adequada inspeção e com a garantia de que Cuba não mais seria invadida . Após este encontro Robert voltou para a Casa Branca onde se encontrou com Kennedy; após ouvir os relatos, na despedida, o Presidente disse-lhe, repetindo o que dissera Abraham Lincoln “Esta é uma noite que eu gostaria de ir ao teatro”
Sei que estes acontecimentos estão situados, temporariamente falando, muito longe das preocupações do nosso dia-a-dia; nestes quase cinquenta anos, muitas coisas mudaram no mundo, a guerra fria não mais faz parte das preocupações dos governantes; a queda do muro de Berlim, que levou de arrastão todo o sonho do regime soviético e a globalização, sinalizam, nos dias de hoje, que as diferenças ideológicas não poderão mais ser resolvidas pela força das armas; a preocupação do momento, para mim, é outra; preocupa-me, sobremaneira, o fundamentalismo religioso.
Eu, que fui testemunha vivencial deste imbróglio, não consigo passar para meus circunstantes (meu neto, por exemplo) o quanto o mundo esteve à beira de uma catástrofe nuclear; aprendi com este episódio, e, com os anos de vida, que alguns homens são colocados, de acordo com as posições que ocupam na sociedade, em posições que os obrigam a tomar posições inacreditáveis, Kennedy e Khruschev como exemplos.
O que cada um destes dois personagens pudessem fazer teria que levar em consideração a posição do seu oponente e a do seu país, haveria o perigo de parecer humilhação; os passos dados por Kennedy são mais facilmente avaliáveis, por conhecermos toda a documentação que restou daqueles dias o que, infelizmente, não ocorre para o lado soviético, que não são divulgados.
            Alguns exemplos explicam mais que palavras: fazer o bloqueio ao invés do ataque; inspecionar, durante o bloqueio, primeiramente um navio não soviético; constantes questionamentos que ele fazia para si mesmo “Estou certo de que Khruschev entendeu quando falo em vital interesse nacional? Os Soviéticos tiveram suficiente tempo para pensar sobre os nossos passos?
Kennedy sabia, pelos encontros que tivera com Khruschev, que a Rússia, também, não queria a guerra e ele tentou deixar claro que neste episódio os EEUU tinham objetivos limitados, ou seja, proteger-se, e para conseguir estes objetivos, não poderia, também, afetar a segurança, e, tampouco, humilhar a União Soviética.
Confirmando o que dissemos acima, ouçamos o que disse John Kennedy em junho de 1963, durante um discurso em uma Universidade Americana: “Acima de tudo, enquanto defendia nosso próprio interesse, o poder nuclear nunca foi colocado na frente da confrontação, pois poderia dar ao adversário apenas duas escolhas: a derrota humilhante ou a guerra nuclear”.  

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