quarta-feira, 24 de agosto de 2011

OS MÍSSEIS NUCLEARES EM CUBA E O TEMOR DE UMA GUERRA

Como foi salientado no artigo anterior, os meses de setembro e outubro de 1962 estavam contaminados pelo clima das eleições legislativas nos Estados Unidos, pela efervescência da “guerra fria” e, também, porque os políticos do partido republicano aproveitavam para fazer carga sobre o presidente Kennedy, alarmando a população para o fato, segundo diziam, que os “Estados Unidos não estavam levando a sério o seu sistema de segurança”, com sugestões de alguns oposicionistas para que se procedesse à invasão de Cuba, tendo em vista a presença dos soviéticos no continente americano.
Pouco tempo antes destes acontecimentos (1959), um filme (“On the beach”, com versão brasileira com o título “A hora final”) estrelado por Gregory Peck no papel de um comandante de submarino nuclear americano, além de Ava Gardner e Fred Astaire, chamava a atenção e atemorizava a população americana e, porque não dizer, do mundo todo; lembro-me que vi o filme no inicio de 1960 em um dos cinemas de Curitiba, na companhia de dois colegas universitários e, após a sessão, resolvemos “enfrentar” várias rodadas de chopes, para aliviar a sensação de angústia que sentimos, principalmente porque nem a cena final do filme trouxe alivio para a platéia; pelo contrário, deixava a sensação de que tudo aquilo poderia ser verdade.
Filme carregado de emoção, relatava alguns episódios de uma possível III guerra mundial, quando alguém resolve acionar o “botão” e iniciar um conflito nuclear que devastou todo o hemisfério norte e a nuvem radioativa se encaminhava para o hemisfério Sul; o único lugar ainda habitável era a Austrália, porém, sua população tinha consciência do que estava ocorrendo e se perfilava para receber pílulas letais para cometerem suicídios em massa; Peck volta com seu submarino para a Califórnia e lá encontra a mesma cena catastrófica.
O Presidente Kennedy precisava fazer uma aparição na televisão para dar conhecimento ao povo americano sobre acontecimentos em Cuba, antes que as noticias “vazassem” para a imprensa e provocassem insegurança e, até mesmo, pânico, porém, antes de fazê-lo ele precisava, também, explanar qual a estratégia que seria seguida diante de fato tão perturbador para a paz, não só para os EE. UU. como para o mundo todo.  
A partir daquele primeiro encontro entre o Presidente Kennedy e seu irmão Robert, formou-se um comitê executivo do Conselho de Segurança Nacional, composto por cerca de vinte pessoas, incluindo dentre estas, além do Presidente e do seu irmão Robert, o secretário de Estado Dean Rusk, da defesa Robert McNamara, o diretor da CIA, o chefe do estado maior das forças armadas, o General Maxwel Taylor e o vice Presidente Lyndon Johnson; é de salientar que todas as discussões, a partir da primeira reunião, foram gravadas pelo Presidente Kennedy, sem que nenhum participante tivesse conhecimento que isto estava acontecendo.
Acho pertinente abrir um parêntese e narrar para meus leitores o que é descrito a respeito destas gravações, um dos segredos mais bem guardados da história americana, pois, além de Robert Kennedy, apenas a secretária do Presidente, senhora Evelyn Lincoln e mais dois agentes do serviço secreto americano sabiam da sua existência; após o assassinato de Kennedy, ela e os dois agentes removeram, antes que Johnson tomasse posse, toda aquela aparelhagem assim como as fitas gravadas, mantendo-as sob sua guarda.
Em julho de 1973, durante as investigações do senado sobre o escândalo “Watergate” que envolveu o Presidente Nixon, descobriu-se que a Casa Branca possuía este sofisticado sistema de gravação e, por ilação, surgiram rumores de que poderia haver similares em outras prévias administrações e então o senador Kennedy se viu na obrigação de confirmar a sua existência e prometeu enviá-las para o Arquivo Nacional; em 1997, graças ao auxilio da Harvard University, foi impresso o livro “The Kennedy Tapes” editado por Ernest May e Philip Zelikow, com a transcrição de todas as discussões ocorridas durante aquelas reuniões; são mais de seiscentas páginas, as quais tenho consultado à procura de subsídios para a redação destes textos.
O comitê executivo do Conselho de Segurança Nacional reunia-se todos os dias e em tempo integral na “Casa Branca”, praticamente sem intervalos, na busca de opções estratégicas e possíveis recomendações a serem encaminhadas ao Presidente a quem caberia, como realmente aconteceu, escolher o caminho a ser seguido; no inicio foram colocadas para discussões uma variada gama de opiniões, algumas sugerindo não tomar nenhuma atitude, pois, a presença dos mísseis não deveria alterar o balanço das forças e outras, mais agressivas, fazendo opção por um ataque aéreo contra os mísseis.
As recomendações conclusivas deste comitê, bem como as intensas discussões surgidas entre os seus componentes e, o mais importante, a decisão final tomada pelo Presidente Kennedy, serão discutidas na próxima semana.
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                               

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