quarta-feira, 24 de agosto de 2011

ATACAR CUBA OU FAZER BLOQUEIO DE ACESSO À ILHA?

O Comitê executivo do Conselho de Segurança Nacional se reunia, como afirmamos na semana passada, todos os dias e, praticamente, em tempo integral; faziam parte deste seleto grupo de pessoas, homens inteligentes, corajosos e, principalmente, com grande dedicação ao seu país, como afirma Robert Kennedy no seu livro “Thirteen days - Cuban missile crisis” e que me tem servido para consulta para estes artigos.
            O sentimento generalizado era de que seria necessária alguma forma de reação aos fatos que foram detectados;  os Estados Unidos não poderiam aceitar o que a Rússia havia feito, porém, o que fazer era a dificuldade, pois, um movimento em falso poderia desencadear, possivelmente, um conflito nuclear.
            O Presidente Kennedy decidiu, para não ser o centro polarizador  das atenções e não inibir as discussões, não participar de todas as reuniões do comitê; ele solicitou ao grupo que lhe trouxesse as possíveis alternativas de ação para facilitar sua final decisão; após dois dias de discussões, duas idéias dividiam o grupo: promover o bloqueio naval e aéreo de Cuba ou um ataque militar contra a ilha.
            O ataque militar ganhou força com a posição do General Le May, comandante em chefe da força aérea americana, francamente favorável a esta posição; o Presidente o questionou – os russos não reagirão? Destruiremos seus mísseis, mataremos muitos russos que lá se encontram e eles não farão nada? Se eles não tiverem nenhuma ação em Cuba, garanto que moverão algumas outras peças do xadrez em Berlim, numa referência à construção, perpetrada pelos soviéticos em agosto daquele ano de 1961, de uma cerca de arame farpado e, depois, de um muro, separando a parte oriental da ocidental da cidade de Berlim, como sabemos, somente derrubado 28 anos depois.
            Não se precisa dizer que o ambiente era de grande tensão durante estas discussões;  felizmente o Presidente Kennedy, de vez em quando apelava para o humor para desanuviar os ânimos; uma destas ocasiões vale a pena ser lembrada – o General Shoup, comandante da marinha, resumindo o pensamento de todos, disse ao Presidente: - O senhor está em grande apuro, senhor Presidente!  Kennedy respondeu sem fitá-lo e provocando risadas no grupo: O senhor está no mesmo barco que eu!
            Kennedy havia aprendido uma lição com a fracassada invasão de Cuba na Baia dos Porcos em abril de 1961; naquele episódio ele havia se cercado de muitos poucos conselheiros para ajudá-lo a tomar aquela decisão, como lhe foi cobrado por Eisenhower, antes de dar-lhe o apoio público por ele agora solicitado; daí a razão dele insistir em provocar tantas discussões e por tantos dias, com o grupo da comissão.
            Após três dias de reuniões, paulatinamente, a idéia de se promover o bloqueio de acesso a Cuba passou a ser majoritária, principalmente após uma forte intervenção de Robert Kennedy afirmando, dentre outras coisas: “A tradição e a história da América não permitem que pratiquemos um ataque contra uma nação tão pequena; nossa herança e nossos ideais não podem ser destruídos”; nesta mesma reunião o Ministro da defesa, Mc Namara, embora fosse favorável ao bloqueio, apresentou, se a decisão fosse pelo ataque, os planos para este desiderato; inicialmente com quinhentos ataques aéreos, tendo como alvo as guarnições militares, incluindo aí os mísseis, campos de pouso, portos e as defesas antiaéreas da Ilha.
            No meio de todas estas discussões, o ministro das relações exteriores da URSS, Andrei Gromyko, marcou entrevista com o Presidente Kennedy; como os Russos não sabiam que os americanos tinham conhecimento da presença dos mísseis em Cuba, optou-se por recebê-lo, para que os mesmos não desconfiassem e também, para ouvi-lo; Gromyko diz que os americanos deveriam parar de acossar a Ilha de Cuba, pois os cubanos desejavam, simplesmente, a coexistência pacífica com os EEUU e não estava interessada em exportar suas idéias para a América Latina; Kruschev pede para dizer-lhe que a única assistência que estão dando a Cuba é para a agricultura, além de pequena quantidade de armas defensivas.
            Diz Robert Kennedy que o Presidente ficou atônito, porém, admirou o sangue frio de Gromyko e afirmou-lhe categoricamente: “Haverá sérias consequências se a União Soviética resolver colocar mísseis ou artefatos ofensivos em Cuba”.
            Finalmente, na 5ª. feira à noite, dia 18 de outubro, embora ainda não fosse consenso, a maioria dos membros do comitê opinava para se fazer o bloqueio da Ilha e imediatamente se dirigiram à Casa Branca e fizeram a explanação ao Presidente sobre esta conclusão; porém, nesta reunião as discussões reiniciaram e tudo voltou à estaca zero. Como foi resolvida a questão? Na próxima semana voltaremos a discutir o assunto.  

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