quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Mísseis em Cuba – a guerra nuclear foi evitada no último momento

Naquele dia, 22 de outubro de 1962, a população americana mantinha seu ritmo normal de vida; ninguém poderia, ao menos, sonhar o que seria dito pelo presidente Kennedy perante uma cadeia de televisão, especialmente convocada para este fim; às 19h00min em ponto, John Kennedy iniciou sua alocução; parecia calmo e, principalmente, confiante com a situação, estava no ambiente que ele dominava e que lhe valeu, inclusive, sua vitória nas eleições presidenciais de 1960, após o histórico debate que ele teve com Nixon, alguns dias antes das eleições.
Olhou para as câmeras, deram-lhe um “close” na face, depois tiraram o “zoom” e ele falou, pausadamente: “Boa noite meus concidadãos. Este governo, como prometeu, tem mantido uma estreita vigilância sobre as atividades militares soviéticas na ilha de Cuba. Durante a última semana tivemos evidências de que uma série de plataformas de mísseis está sendo instalada na Ilha; o propósito destas bases não é outro que não o de dar à União Soviética, capacidade logística nuclear contra o hemisfério ocidental. Após termos a confirmação destes fatos, estabelecemos nosso plano de ação e sentimo-nos na obrigação de informar-lhes todos os detalhes.”
Após fazer um retrospecto sobre a guerra fria, das démarches nas discussões com os russos e com os aliados, concluiu, dramaticamente: “O bloqueio naval que autorizei fazer ao redor de Cuba será apenas um passo; estamos preparados para, se for necessário, utilizar da força militar para atingir nossos propósitos: retirada dos mísseis de Cuba... Cidadãos americanos! Temos consciência que este é um momento de grande dificuldade, muitos meses de sacrifícios e paciência virão à frente para nos testar; nossa meta não é a vitória possível, mas sim, a reivindicação do direito; não é a paz à custa da liberdade, porém, paz e liberdade em nosso hemisfério e eu desejo, também, ao redor do mundo. Deus nos ajudará a conseguir esta meta.”   
Milhões de americanos não tiraram os olhos da televisão durante os 30 minutos do discurso de Kennedy; a reação no dia seguinte, não foi, como poderia ter sido, de pânico, porém, as famílias começaram a estocar alimentos e alguns outros utensílios; a imprensa escrita se encarregou de espalhar a notícia para o resto do mundo; no mesmo dia (telégrafo) Khruschev recebeu de Kennedy cópia do discurso, juntamente com um memorando que finalizava com as seguintes palavras: “Eu espero que seu governo irá evitar alguma ação que possa piorar a crise já instalada e que possa concordar em iniciar negociações para a paz.”
            Enquanto isto, os navios russos que já estavam a caminho de Cuba, continuavam navegando, alheios às informações de que haveria um bloqueio ao redor da Ilha e este era constituído por 25 “destroyers”, dois navios de cruzeiros, um antisubmarino de guerra além de vários outros navios e submarinos de suporte; na quarta feira, dia 24 de outubro, Kennedy recebeu mensagem de Khruschev em resposta a que ele havia lhe enviado na segunda feira.
            Carta redigida em termos muito pesados, repelindo, “como inaceitável o bloqueio imposto pelos americanos, informando que o governo soviético dará instruções para os capitães dos navios que rumam para Cuba, para que não aceitem o bloqueio e que os americanos serão os responsáveis pelos acontecimentos que advirão, se houver interceptação de algum barco soviético; infelizmente o povo americano poderá sofrer as consequências, uma vez que os Estados Unidos não são mais inacessíveis, após o advento dos modernos armamentos de que dispomos”.
            Era a chamada, em termos muito claros, para a confrontação militar no caso de haver interceptação de algum navio soviético; porém, no dia seguinte (25 de outubro) o porta voz do Pentágono anunciava que, pelo menos, doze navios soviéticos recuaram antes de chegarem ao ponto definido como “bloqueada a passagem, sem a prévia inspeção das cargas transportadas”, provavelmente devido à intermediação de U Thant, Secretário Geral das Nações Unidas, que solicitou aos dois chefes de estado que substituíssem a confrontação pela discussão.
            Khruschev tomou a iniciativa de, novamente, escrever a Kennedy; foi uma longa carta, enviada por “circuito de cabo” cuja transmissão durou cerca de seis horas; em resumo, ele aceitava a mediação de U Thant e propunha: “De nossa parte, declaro que nossos navios não mais levarão armamentos para Cuba e os Estados Unidos se comprometem a não invadir Cuba e não darão auxílio para que outros o façam (exilados); portanto, a presença dos especialistas militares soviéticos em Cuba não mais será necessária”.
            Estava perto do fim a pior crise havida entre os Estados Unidos e a União Soviética nos tempos da guerra fria; continuaremos na próxima semana.


***********************

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial